Refletindo sobre os ambientes urbanos como locais de mobilidade humana, os aspectos corpóreos de gênero e movimento tornam-se proeminentes. As interseções entre design, expressão sartorial, violência, identidade, gênero e espaço—seja público ou privado—exigem atenção urgente. Esses pensamentos levaram à criação de Text Me When You Get Home (TMWYGH), uma exposição que explora a busca por segurança e pertencimento dentro de estruturas projetadas. TMWYGH afirma verdades corporais em um mundo rico em histórias matriarcais e enfatiza o cuidado comunitário. A exposição fala sobre o calor e o alívio encontrados no entendimento compartilhado, muitas vezes envolvendo processos materiais e arquivísticos, e a troca de linguagem e informações.

Chanti Mañon-Ferguson and Ameyalli Mañon-Ferguson, Cihuapotli, 2025, Mixed media installation, 14 in x 18 in

O trabalho de Chanti Mañon-Fergusondemonstra a inseparabilidade do conhecimento ancestral, do ofício cultural e do trabalho visual matriarcal. O feminicídio em andamento no México e nos territórios Nativos dos EUA precisa ser abordado na luta contra a retórica anti-indí- gena, um tema que Mañon-Ferguson explora através do futurismo indígena e da representação contemporânea nativa. Trabalhando com tinta a óleo, Mañon-Ferguson combina estudos étnicos com sua experiência vivida como mulher Mazahua, Nahua e Osage. Cihuapotli apresenta duas mulheres nativas com roupas tradicionais mexica- nas, destacadas por pigmentos terrosos (Rust, Evergreen, etc.). Os brincos bordados à mão, criados por sua irmã, Ameyalli, e fixados na tela, empurram a obra para três dimensões. Ao integrar o bordado—frequentemente descon- siderado pelas perspectivas coloniais ocidentais— as irmãs afirmam sua importância cultural e política, honrando sua história comunitária.

Ameyalli Mañon-Ferguson, Mecayotl, 2025, Mixed media installation,

Ameyalli Mañon-Ferguson, criada com sua irmã nas comu- nidades indígenas de Oregon, mistura técnicas tradicionais com estilos contemporâneos alinhados ao futurismo indíge- na. Para TMWYGH, ela criou Mecayotl, uma obra bordada rica em significado simbólico. Na cultura Nahua, beija-flores carregam mensagens de amor do além, e ao centralizar o além, Mañon-Ferguson transporta o espectador para além do reino humano linear. Sua obra enfatiza a resistência às tradições ocidentais através da não-figuração, do não-huma- no e da transformação. A obra é dedicada à sua tia, Catalina Mañon Muñoz.

A prática mista de Bruna Araújo Pereira explora as repre- sentações de mulheres e pessoas negras no Brasil em Seen. Pereira destaca como as mulheres e indivíduos que se apre- sentam como femininos são frequentemente sobrecarrega- dos com uma visibilidade extrema—seja através de olhares invasivos ou estados políticos LGBTQI-fóbicos e voltados para a vigilância. Em Le Cri à La Roça, Pereira faz referência ao trabalho do fotógrafo do século XIX, Victor Frond, que documentava o afastamento de pessoas escravizadas no Brasil. Essa apropriação desafia o papel da fotografia na exploração colonial, criando uma obra contemporânea que reflete lutas interseccionais.

Weam Elsheikh, Jilbab, 2024, Digital art on fabric, Variable dimensions

O trabalho de caligrafia de Weam Elsheikh, D’ahr—uma transliteração da palavra árabe que significa “coluna vertebral”—retrata três mulheres ligeiramente sobrepon- do-se em um único quadro. O visual sugere a relação entre mulheres e como elas são tratadas em diferentes espaços. Elsheikh desenha uma composição que faz com que as mulheres pareçam poderosas e intocáveis, honrando a força da comunidade e da solidariedade entre as mul- heres. Em Jilbab, Elsheikh retrata uma mulher vestindo um jilbab, um traje usado por algumas mulheres muçulmanas. Impresso no tecido estão as perguntas frequentemente feitas durante o assédio público: “Mas o que ela estava vestindo?” e “Como era a roupa dela?” Esta obra desta- ca o assédio enfrentado por indivíduos que usam jilbab, enquanto defende o direito das mulheres de escolherem sua roupa.

Gabby Vazquez, re-situated, 2024, Mixed media installation, 5 ft x 3.5 ft

Re-situated de Gabrielle Vazquez desafia a ansiedade desestabilizadora que mantém as pessoas desconecta- das por meio de uma composição ritualística de objetos cerâmicos tecidos dispostos em um círculo, referindo-se à relação cosmológica entre a indigeneidade e a terra. O peso dos elementos cerâmicos leva os espectadores a refletir sobre fardos históricos e memórias dolorosas embutidas no material, ao mesmo tempo em que repre- senta o poder de preservar a memória cultural e espiri- tual. O contraste entre as texturas corporais e os objetos cerâmicos pesados reflete a dualidade dessas forças. No tecido acompanhante, mulheres vestindo diversos estilos são impressas em algodão fino, acompanhadas por objetos de moda compostos de têxteis pesados e cerâmica, desafiando percepções de que o vestido em si é um indicador visual do que pode convidar violência contra as mulheres.

Isabella de Souza Teixeira, Tecendo, 2025, Mixed media installation, 9.4 x 11.8 in

Isabella de Souza Teixeira explora identidade e momentos poéticos por meio de seu trabalho. Em En- trelaçar, Teixeira lida com as experiências de indivíduos LGBTQIA+ e mulheres em espaços públicos, focando no transporte público e na desconexão entre a metá- fora do movimento e os sentimentos reais de segu- rança. A vulnerabilidade de publicizar afeto perturba as normas heteronormativas e patriarcais, destacando a tensão entre a verdade pessoal e a necessidade social de permanecer vigilante aos olhares dos outros. Te- cendo de Teixeira tece um mapa do metrô adornado com fio colorido, lembrando a bandeira LGBTQIA+, ilustrando como redes definidas de movimento conec- tam pessoas através de geografias e espelham a ação coletiva em direção a espaços seguros.

Isadora Cardoso, Share Your Location, 2025, mixed media installation, 50 x 34.2 in

As representações de gênero e mobilidade nas pais- agens urbanas de Isadora Cardoso catalisaram a conversa visual coletiva que se tornou TMWYGH. Share Your Location (SYL) explora o ato de compartilhar con- figurações de localização, refletindo sobre os sistemas de comunicação digital que definem o espaço. Usando miçangas para representar as linhas do metrô de São Paulo, Cardoso cria um tributo intricado às mulheres que se tornaram estrelas após o feminicídio. Outra obra, para todas as marias, é um mapa de mão da América Latina, feito de retalhos de tecido costurados por Cardoso e sua avó. O nome “Maria” simboliza mulheres em toda a região e serve como substituto para o “Jane Doe” nas culturas de língua inglesa. Para todas as marias homenageia o movimento Ni Una Menos, transformando um nome comum em um mar- cador coletivo de resistência.

Em colaboração com Ameyalli Mañon-Ferguson, Cardoso também produziu Echoes, uma peça de áudio, composta por gravações de voz de mulheres idosas em várias línguas. Esta obra enfatiza ainda mais a importância de honrar o conhecimento ancestral, à medida que as vozes dessas mulheres se tornam parte da memória coletiva que sustenta as ger- ações futuras.

Isabella de Souza Teixeira, Unlacing, 2025, Photograph, 11.7 x 16.5 in

TMWYGH, como exposição, junta o trabalho de artistas mulheres de todo o mundo, enraizado na busca por segurança, na ilustração de sua ausência e na recuperação de poder através da arte como ferramenta política. Através de objetos materiais, TMWYGH cria uma narrativa que funde solidarie- dade interseccional e a busca por segurança, tecendo um mapa que reflete ideias, experiências e sentimentos compartilhados. A exposição funcio- na como um dispositivo político poderoso, apre- sentando o plural, o fluido, o complexo, o trágico e o reconfortante em relação aos entendimentos globais de feminilidade e resiliência.

Open Call Exhibition
© apexart 2025

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